Em um domingo de setembro, sobre a base aérea de Reims, a França católica se encontrou para um encontro histórico. O cenário era desolador: um entorno militar, uma planície cinzenta e fria, sem campanários, árvores ou casas. Nada de humano para identificar o local, nada de bonito para chamar a atenção. As pistas infinitas não levavam a lugar algum, e o céu estava tão baixo que não permitia sonhar ou pensar em viagens. Um lugar estranho para uma reunião! No entanto, lá estavam eles.
Os jornalistas Annick Cojean e Eric Fottorino descrevem assim o início de seu artigo no Le Monde, onde narram a missa pública celebrada pelo papa João Paulo II em 22 de setembro de 1996. Com mais de 200.000 fiéis presentes, a celebração marcou o encerramento de uma viagem de quatro dias que havia mobilizado emoções desde meses atrás.
Para os políticos, historiadores e especialistas em questões religiosas, a perspectiva da visita do papa era fonte de excitação. No entanto, as autoridades estavam visivelmente constrangidas: o governo francês estava representado apenas pelo secretário de Estado encarregado da Saúde e da Segurança Social, Hervé Gaymard. É justo dizer que um tal protocolo é inusual para acompanhar o líder espiritual da Igreja Católica.
Apesar disso, João Paulo II encontrou-se com Jacques Chirac três dias antes, em Tours, e saudou o primeiro-ministro Alain Juppé após a celebração. Mas até o final, essa viagem pastoral foi considerada extremamente arriscada. Qual era o motivo? Por causa de um evento histórico pouco conhecido, datável com dificuldade e difícil de situar: o batismo de Clovis.
Realizado há 1.500 anos, em Reims, o batismo do rei dos Francos marcou a aliança entre a Igreja e os Mérodingas, abrindo caminho para o que viria a ser a França moderna. Enquanto o papa celebrava essa data, muitos se perguntavam: por que esse evento foi considerado tão perigoso?