Em tempos marcados pela crise dos meios de comunicação tradicionais e a ascensão das plataformas digitais, a notícia do cancelamento do 'The Late Show with Stephen Colbert' serve como um espelho para o estado atual da indústria da TV. Em recente entrevista no podcast Breaking Bread, Samantha Bee, ex-companheira de trabalho de Colbert, analisou os motivos que levaram à decisão da CBS de encerrar o programa.
Bee destacou dois fatores principais: alegações de prejuízo financeiro por parte da emissora e o contexto do iminente merger entre a Paramount Global (antiga CBS母公司) e a Skydance Entertainment, que exigiu aprovação do governo dos Estados Unidos. "Eu acho que ambas as coisas são verdadeiras", declarou ela, antes de se aprofundar na crise da TV linear e o impacto das redes sociais no consumo de conteúdo.
Para Bee, os espectadores não estão mais interessados em assistir a programas tradicionais que prometem entretenimento e humor. "As pessoas estão literalmente nas suas celulares o tempo todo", ressaltou. "Elas não precisam de um resumo dos eventos do dia." Essa observação é um alerta sobre a mudança de hábitos dos espectadores, que priorizam agora a mobilidade e a imediatismo na informação.
Além disso, Bee mencionou a pressão política decorrente das fusões corporativas. "Quando o presidente dos Estados Unidos tem que dar seu aval para uma fusão corporate, você não pode fazer piadas sobre ele", disse, referindo-se ao caráter sensível do ex-presidente Donald Trump. "Ele é um idiota mimado e nocivo." Essas palavras revelam a tensão entre humor político e a necessidade de se adaptar às agendas dos poderosos.
Curiosamente, Bee tem experiência pessoal com cancelamentos de programas em meio a fusões. Sua própria série na TBS, 'Full Frontal with Samantha Bee', foi afetada pela merger da Warner Bros. com a Discovery (atualmente desfazendo-se). "Quando uma grande fusão está acontecendo, ninguém quer causar problemas", afirmou, destacando como as prioridades empresariais sobrepujam quaisquer considerações artísticas ou创意.
Enquanto a CBS e a Paramount se perguntam como "lançar" o cancelamento do programa sem sofrer críticas, Bee sugere que a decisão foi menos uma questão de dinheiro e mais uma de imagem. "Eles estavam lidando com a pergunta: 'Como podemos anunciar isso sem levar muitas críticas?'", relatou.
A situação do 'The Late Show' reflete um momento maior da indústria, em que o humor político e os programas noturnos estão lutando para se manter relevantes. Enquanto outros apresentadores como Seth Meyers já expressaram preocupações sobre o futuro de seus próprios shows, a notícia serve como lembrete de que estamos assistindo à morte lenta da TV linear.
Enquanto isso, no Brasil, podemos observar paralelos interessantes. O declínio dos programas de humor político no país, assim como nos Estados Unidos, reflete a mesma tendência global: a mudança na forma como o público consome conteúdo e a pressão por resultados rápidos em um mundo cada vez mais digital.