Em um momento em que o Brasil celebra a redução geral de homicídios violentos, os números sobre femicídios pintam um quadro assustador e revelador. Enquanto o país registra uma queda de 5,4% nas mortes violentas intencionais, o número de assassinatos de mulheres por motivos de gênero alcança o recorde desde que a Lei do Feminicídio foi sancionada em 2015.
Em 2024, foram registrados 1.492 femicídios, um aumento de 0,7% em relação ao ano anterior. Para cada mulher assassinada por gênero, há mais tentativas: 3.870 vítimas sofreram tentativas de feminicídio, o que representa um incremento de impressionantes 19%. Enquanto isso, as estatísticas sobre a violência sexual também preocupam: o número de estupros atingiu 87.545 casos, o maior nível desde que os dados são compilados.
O relatório da Anuário Brasileiro de Segurança Pública revela padrões alarmantes: a maioria das vítimas era jovem (70,5%), negra (63,6%) e assassinada dentro de casa (64,3%). Em 80% dos casos, o autor do crime era um companheiro ou ex-companheiro. A violência intrafamiliar emerge como um problema crônico, reforçando a necessidade de políticas mais eficientes para proteger mulheres em situação de risco.
Apesar das medidas legais, como as medidas protetivas, elas demonstraram ser insuficientes. No ano passado, 121 mulheres foram assassinadas mesmo estando protegidas por ordem judicial. Em 2024, houve mais de 100 mil registros de descumprimento dessas medidas, um aumento de 10,8%. Isso não apenas expõe a fragilidade do sistema legal, mas também lança luz sobre a necessidade de acionar fatores sociais e culturais que permitem que a violência persista.
Enquanto o país lida com um paradoxo – redução global da violência, mas aumento específico contra mulheres – é fundamental repensar as estratégias de prevenção. Políticas públicas mais robustas, campanhas de conscientização e a responsabilização efetiva dos criminosos são necessárias para combater essa epidemia silenciosa.