Acordo de Bougival: uma fachada para conter ambições autônomistas

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Em um gesto que promete ecoar pelos mares da Oceania, a França assinou recentemente o Acordo de Bougival, um tratado que visa aliviar tensões na Nova Caledonia, mas que, na verdade, esconde uma jogada política bem pensada. Enquanto Paris celebra este acordo como uma 'avanço histórico', a realidade é bem mais sutil: o texto estabelece um fisiologismo disfarçado de federalismo, mantendo o território sob seu jugo enquanto concede algumas liberdades institucionais.

Para os leigos, isso pode soar como uma vitória para a Nova Caledonia, mas a verdadeira motivação está no medo de contágio. Paris não quer que as demandas por autodeterminação se espalhem para outros territórios ultramarinos, como a Guiana e a Polinésia Francesa. Esses locais possuem vastos territórios marítimos estratégicos, e perder o controle sobre eles poderia abalar o status de segunda potência naval do mundo.

Mas há mais: a França também olha para a Corsica. Enquanto os independentistas na ilha mediterrânea reivindicam um status particular, o Acordo de Bougival serve como exemplo de como conceder autonomia sem ceder soberania. Um equilíbrio tênue que pode virar precedente.

No Brasil, é impossível não lembrar das nossas próprias batalhas federativas. Enquanto os estados discutem a redistribuição de poderes, a Nova Caledonia nos lembra que até o federalismo pode ser um instrumento para manter o status quo.

João Silva

João Silva

Enquanto a França se vê no espelho do passado colonial e tenta equilibrar entre concessões e controle, os verdadeiros interesses geopolíticos brilham como uma moeda de ouro. E é sempre fascinante assistir a isso.

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