Após mais de 21 meses de guerra, a Faixa de Gaza enfrenta uma crise humanitária sem precedentes. Enquanto o mundo assiste, perplexo, à tragédia se repetir, a ajuda internacional se encontra presa em um limbo burocrático e político. A Fundação Humanitária de Gaza (GHF), criada por Israel e responsável pelo envio de alimentos na região, opera desde maio, mas suas atividades têm sido marcadas por caos e violência.
Um sistema que não funciona
A ONU e diversas organizações não governamentais denunciam que a GHF ignora o modelo tradicional de distribuição de ajuda, criando um sistema que prioriza objetivos militares israelenses. Com apenas quatro pontos de distribuição, a fundação gera aglomerações e confrontos constantes entre civis e forças armadas.
Arwa Damon, fundadora da ONG Inara, resume o problema: "A ajuda humanitária não é distribuída em zonas completamente arrasadas e militarizadas". Antes do novo sistema, a ajuda era coordenada pela ONU por meio de mais de 400 pontos, mas Israel acusa que o modelo anterior era explorado pelo Hamas. A acusação é negada pelo grupo.
Caminhões parados e vidas em risco
Enquanto isso, centenas de caminhões com ajuda humanitária aguardam autorização israelense para entrar na Faixa de Gaza. Mesmo aqueles que conseguem passar enfrentam desafios logísticos e a ameaça constante de bombardeios. A UNRWA afirma que "milhares de caminhões estão em países vizinhos aguardando liberação".
Em meio à miséria, os civis palestinos recorrem a meios drasticos para se alimentar. "Alimentaremos nossos filhos, mesmo que nos custe a vida", declarou Yusef Abu Shehla, morador de Khan Yunis.
Uma crise que transcende números
A situação na Faixa de Gaza é um espelho da complexidade dos conflitos contemporâneos. Enquanto governos e organizações internacionais discutem logísticas e protocolos, o sofrimento diário de civis continua. A ajuda humanitária, que deveria ser um escape, se tornou mais uma vítima do conflito.
É um lembrete doloroso de que, em meio à abundância global, a fome e a miséria ainda são armas poderosas. E, enquanto isso, o mundo assiste e debate-se entre ação e inércia.