Em um recorte histórico e atual ao mesmo tempo, o problema das condições sanitárias inadequadas para mulheres legisladoras nos Estados Unidos reflete uma desigualdade estrutural que transcende o espaço físico.
Mais do que questões de conforto, a escassez de banheiros em locais como o Kentucky Statehouse expõe um dilema profundamente enraizado na cultura política norte-americana: a invisibilidade das mulheres no desenho da infraestrutura governamental. Enquanto os homens sempre tiveram acesso facilitado a instalações adequadas, as mulheres legisladoras enfrentaram desafios significativos para garantir até mesmo um espaço privativo e seguro, algo que ainda hoje é objeto de lutas em muitos estados.
Para Lisa Willner, congressista democratica de Kentucky, a ausência de banheiros suficientes não é apenas uma inconveniência: 'Essa mensagem é clara: este lugar não foi feito para nós.' As palavras de Willner resumem um problema que transcende o físico e se alastra pelo próprio conceito de representatividade. Kathryn Anthony, professora emérita da Universidade de Illinois, lembra que a arquitetura é um espelho da sociedade: 'Se o ambiente é projetado para metade da população e esquece a outra, estamos desen卉ando um grupo desfavorecido.'
Ao longo do século XXI, estados como Kentucky, Georgia e Maryland começaram a investir em reformas que buscam equilibrar o acesso a banheiros. O exemplo de Tennessee, onde o Capitólio inicialmente incluía apenas um banheiro para homens, serve como metáfora da exclusão histórica. Hoje, mulheres legisladoras enfrentam espaços apertados e indignos, lembrando constantemente que 'o local foi projetado sem considerar mulheres ou suas necessidades básicas.'
Em Nebraska, por exemplo, as senadoras femininas só tiveram um banheiro privativo em 1988. Antes disso, dependiam de soluções improvisadas e da proteção de agentes da lei para garantir privacidade. Em Colorado, a memória das mulheres que lutaram por um espaço digno é homenageada com placas e poesias, como a dedicada à primeira mulher negra legisladora Arie Taylor.
No Capitólio dos Estados Unidos, a primeira sala de banho para congressistas mulheres só foi inaugurada em 1962. Mesmo hoje, a ausência de infraestrutura adequada continua a ser um problema, refletindo 'uma falha na arquitetura da igualdade', conforme ressaltado por legisladoras como Liz Thomson, de Novo México.
Enquanto o dinheiro começa a fluir para renovações que prometem mais banheiros e melhorias nas condições das mulheres no trabalho legislativo, é essencial refletir: será suficiente apenas construir banheiros? Ou será preciso reestruturar a própria arquitetura do poder para garantir que as mulheres sejam finalmente vistas como sujeitos plenos de direitos e respeito?