Em plena era de transparência, o caso da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) desafia nossa capacidade de indignação. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) revela um esquema de corrupção que transformou uma estatal em um balcão de negócios ilícitos. No centro da trama está Francisco José da Costa, um servidor público que não hesitou em usar sua própria família como ferramenta para lavar milhões em propinas.
As irmãs e a esposa: o núcleo financeiro do crime
Suspeitas indicam que suas irmãs, residentes no interior do Piauí, e sua esposa, dona de um supermercado no estado, integravam o 'núcleo financeiro' da organização. Juntas, elas movimentaram ao menos R$ 935 mil em propinas, recebendo e pulverizando os valores ilícitos para manter o esquema funcionando.
Controles digitais e lógica criminosa
As mensagens de WhatsApp analisadas pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) mostram o controle que Francisco exercia sobre suas irmãs. 'Faz um pix de 10 mil', ele ordenava, indicando contas de servidores da Novacap. Em outro diálogo, repreendia uma parente por mencionar nomes: 'Não precisa falar nome!!'
Uma engrenagem bem lubrificada
Para garantir o fluxo constante de recursos, o esquema contou com empresas fictícias e políticos influentes. Firmas como a DM & Castro Engenharia foram criadas para emitir notas fiscais fraudulentas. Sem funcionários registrados, essas empresas serviam apenas como fachadas para receber repasses ilícitos.
Política local: o elo entre o público e o privado
A conexão foi feita por Ivoneide Souza Machado Andrade Oliveira, então secretária da Comissão de Economia, Orçamentos e Finanças (CEOF) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Conhecida como a '25ª deputada' pela influência que exercia, Ivoneide atuava como facilitadora, liberando emendas parlamentares que abasteciam os contratos fraudulentos.
Um retrato da distorção do Estado
Para o Ministério Público, o caso da Novacap é um retrato de como a estrutura do Estado foi distorcida para alimentar interesses privados. O esquema unia familiares, servidores, políticos e empresários, funcionando como uma máquina de desvio de recursos públicos.
A lição que fica
Enquanto isso, a Novacap segue sem resposta, e o espaço para as defesas dos envolvidos continua aberto. O caso nos lembra uma vez mais da necessidade de vigilância constante contra a corrupção e do quanto a transparência deve ser cultivada como um bem público.