A MS-156, rodovia que corta a Terra Indígena Dourados no Mato Grosso do Sul, é palco de um drama que se repete há décadas. Enquanto o governo estadual descumpre uma decisão judicial de 2020 que obriga à realização de melhorias na infraestrutura viária, os povos Terena, Guarani e Kaiowá continuam a enfrentar riscos diários. A Justiça determinou a instalação de passarelas, câmeras de monitoramento 24 horas, um posto da Polícia Rodoviária Estadual e a melhoria na iluminação, além de ações de educação no trânsito. No entanto, essas melhorias ainda não saíram do papel, deixando os indígenas expostos a acidentes violentos.
Construída durante a ditadura militar sobre uma trilha que pertencia aos indígenas, a rodovia virou um símbolo de negligência governamental. Desde 2000, mais de 1.993 indígenas perderam suas vidas em acidentes de trânsito. Entre 2011 e 2020, o número de óbitos aumentou impressionantemente: 67% a mais do que na década anterior. Enquanto isso, o governo aponta 'pendências técnicas' como justificativa para o descumprimento das ordens judiciais.
É um paradoxo da civilização moderna: enquanto os carros e as leis avançam, os mais vulneráveis continuam a pagar com suas vidas. A MS-156 não é apenas uma rodovia; ela é um espelho do Brasil que queremos esconder: um país onde o progresso oftalmo ignora as vítimas fatais.