Em um cenário que mistura força bruta e estética, o futebol brasileiro está dividido. Não é mais só a disputa entre times ou torcidas, mas sim sobre algo tão fundamental quanto o próprio gramado onde as partidas são jogadas.
A campanha iniciada por estrelas como Neymar, Thiago Silva e Lucas Moura nas redes sociais pede o fim dos campos com grama sintética. Eles argumentam que esses terrenos aumentam significativamente o risco de lesões graves, algo corroborado por técnicos renomados do país.
Quatro arenas brasileiras, entre elas o Allianz Parque, em São Paulo, e o Engenhão, no Rio de Janeiro, já adotaram a grama sintética. Porém, a tendência é que esse número cresça, impulsionado por razões econômicas e logísticas.
Enquanto os jogadores apontam o risco corporal como principal problema, estudos recentes publicados na revista eClinicalMedicine indicam que o número de lesões pode ser menor em gramados sintéticos, especialmente entre profissionais. No entanto, a falta de testes conclusivos sobre a interação entre o corpo do jogador e o piso dificulta um consenso científico.
Leandro Grava de Godoy, um dos principais pesquisadores sobre gramados naturais no país, explica que os sintéticos são mais rígidos e causam maior atrito, reduzindo deslizamentos mas aumentando o impacto nas articulações. "No sintético, o gramado não rompe, e isso acaba gerando mais força de torção sobre o corpo do jogador", disse ele ao Jornal da Unesp.
Além disso, a discussão não se resume apenas à saúde dos jogadores. O impacto ambiental também entra em pauta. Enquanto os gramados naturais exigem irrigação intensiva e uso de pesticidas, contribuem para a absorção de carbono, redução da temperatura e melhoria da qualidade do ar. Muitos estádios investem em cisternas para captar água da chuva e minimizar o impacto ambiental.
Apesar disso, a escolha por gramados sintéticos quase sempre é financeira. Eles resistem melhor ao uso constante e a eventos como shows, algo que os gramados naturais, com problemas de iluminação e circulação de ar, não conseguem suportar.
Enquanto isso, a Fifa ainda exige grama natural para as partidas da Copa do Mundo. Godoy defende que o sintético tem seu lugar, especialmente em shows, mas que, para o futebol, a grama natural é superior.