A plataforma Itch.io, conhecida por ser um mercado para jogos independentes, anunciou recentemente que retirou de seu site e resultados de buscas todos os jogos adultos e classificados como NSFW (não seguros para o trabalho). A empresa atribuiu essa decisão a uma campanha do coletivo Collective Shout, grupo ativista que já havia criticado anteriormente jogos, música rap e comerciais de lingerie.
O coletivo acusa um jogo específico, intitulado "No Mercy", por retratar temas como estupro e incesto. Em uma carta aberta endereçada a executivos de empresas de pagamento como PayPal, Visa e Mastercard, o grupo argumentou que jogos que "endossam a violência sexual contra mulheres e meninas" contrariam os valores corporativos dessas empresas.
A pressão parece ter surtido efeito. Steam, outro grande mercado de jogos, anunciou que banirá jogos que possam violar as políticas estabelecidas por seus parceiros de pagamento. Itch.io, por sua vez, declarou que a mudança foi necessária para preservar sua relação com fornecedores de pagamentos e evitar problemas com suas redes.
Entre os pontos polêmicos está o fato de que a plataforma havia permitido que "No Mercy" fosse vendido por algum tempo antes de banir o jogo. Criadores de conteúdo criticaram a decisão, destacando que as regras atuais de Itch.io para conteúdo adulto são irrevogáveis e podem levar à perda total de fundos associados às contas violadoras.
Esta não é a primeira vez que empresas de pagamento exercem pressão sobre plataformas online. No ano passado, por exemplo, Gumroad endureceu suas regras para conteúdo NSFW após restrições impostas por parceiros bancários. Mesmo OnlyFans teve que rever sua política após banir conteúdo explícito - decisão que posteriormente revogou.
Enquanto isso, uma petição no Change.org acumulou mais de 137.000 assinaturas, criticando a atuação de Mastercard e Visa nesse contexto. O documento pede que as empresas "deixem de censurar conteúdo legal que se conforma com a lei e os padrões das plataformas".
Essa tendência reflete um equilíbrio tênue entre a proteção de direitos individuais, a liberdade de expressão e as exigências do mercado. No Brasil, onde discussões sobre censura e livre-arbitragem ganham cada vez mais espaço em fóruns sociais e políticos, é difícil não se perguntar até que ponto estamos prontos para aceitar essas mudanças - afinal, a arte sempre foi um campo de batalha cultural.