Em meio às selvas densas da Mata Atlântica, um dos maiores felinos do continente americano está desaparecendo. As onças-pintadas, também conhecidas como suçãos, são sentinelas de um ecossistema que se debate entre a preservação e a destruição. Em São Paulo, esses magníficos animais, com suas rosetas características, estão enfrentando uma batalha silenciosa contra a mão humana.
Uma população em declínio
Dados recentes apontam que apenas 300 exemplares dessa espécie ainda habitam o estado de São Paulo. A redução da população, que chega a 77% em relação aos anos 2009-2011, é alarmante. Pesquisadores usam armadilhas fotográficas para monitorar esses animais, mas as imagens que capturamos não são apenas registros científicos — são testemunhos da destruição do habitat e da ameaça à biodiversidade.
Um refúgio precário
No extremo oeste paulista, o Parque Estadual do Morro do Diabo é um dos últimos redutos das onças-pintadas. Localizado em Teodoro Sampaio, esse parque é uma raridade: uma área onde a Mata Atlântica ainda se mantém intacta, apesar da pressão de fazendas de gado e outras atividades humanas. O nome 'Morro do Diabo' não poderia ser mais adequado — ele guarda um segredo sangrento da história brasileira, mas hoje é um símbolo da luta pela conservação.
A Lei que não protege
Enquanto a natureza tenta resistir, a legislação brasileira parece fracassar. A Lei nº 9.605/1998 e o Decreto nº 6.514/2008 estabelecem punições para quem mata animais silvestres, mas as consequências para os infratores são leves. Em janeiro de 2025, uma mulher matou uma onça-pintada e divulgou o vídeo nas redes sociais — um ato covarde que reflete a indiferença da sociedade perante a destruição da natureza.
Um eco que não podemos ignorar
A morte de uma onça-pintada não é apenas a perda de um animal. É a ruptura de um elo fundamental na cadeia alimentar, um sinal de que nossa relação com o meio ambiente está profundamente perturbado. A Mata Atlântica, com mais de 7 mil quilômetros quadrados protegidos, grita por socorro — e nós devemos ouvir.
Enquanto escrevo estas linhas, lembro da sabedoria popular que diz: 'Quem corta a árvore que abriga o ninho do passarinho acaba sozinho no deserto.' Nossa relação com a natureza não é apenas ambiental — ela é espiritual, um espelho de nossos valores e defeitos. Proteger as onças-pintadas é proteger nossa própria humanidade.