O preço de $80 em jogos: quando o peso da obra se torna insustentável

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Por meses, o fantasma do primeiro jogo custando $80 pairou no horizonte, e foi a Nintendo quem, inesperadamente, quebrou esse impasse. Ainda que não fosse GTA 6, como muitos previram, o aumento de preço era inevitável — questão de tempo. Enquanto ainda não ouvimos oficialmente das planos da Sony para os jogos na PS5, a Xbox já se antecipou ao anunciar que aceitaria esse novo patamar de preços já no próximo inverno.


No entanto, o The Outer Worlds 2 teve a desventura de ser o primeiro jogo da Xbox a custar $80 por aproximadamente um mês antes que a decisão fosse revertida e reembolsos fossem oferecidos. Essa pequena vitória para os jogadores não deve enganar: estamos caminhando inexoravelmente em direção a um mundo onde os jogos de $80 se tornarão comuns. E, além de nos tornarmos consumidores mais criteriosos, devemos começar a discutir o que realmente justifica um jogo custar tanto.


É importante reconhecer que padronizar um preço para obras de arte é algo peculiar. Aceitamos isso nos games porque há décadas o mercado vem operando assim desde a era do N64, quando os preços se tornaram estáveis. Quem cresceu comprando jogos com seu próprio dinheiro lembrará facilmente de época em que títulos custavam mais de $100 logo no lançamento.


A ascensão dos jogos digitais e do crescimento da indústria indie e AA trouxe espaço para experimentações nos preços, mas o padrão para os principais lançamentos sempre foi aquele: $60, $70 — e muito em breve, $80. E assim como esses números não caem do céu, é preciso questionar se estamos tratando os jogos como produtos ou como obras de arte.


A tentativa de reduzir a valorização de um jogo baseada em seu tempo de jogatina é, no mínimo, peculiar. Quanto mais longo, mais vale? Será que isso define sua qualidade artística? Tive jogos que completei em menos de duas horas e pelos quais pagaria bem mais do que outros que me consumiram 100+ horas sem me satisfazer. A arte não se mede apenas pelo tempo gasto.


A discussão sobre o valor de um jogo não deve ficar restrita a metradores. É preciso analisar como essas horas são aproveitadas, qual a qualidade da experiência oferecida e se ela justifica o investimento. E isso varia de pessoa para pessoa, de jogo para jogo.


Ter uma opinião confiável sobre os jogos através de críticas é fundamental. Um bom reviewer não trata o jogo como um simples produto, mas sim como obra prima ou fracasso, analisando sua mensagem, narrativa e sistemas de gameplay. Se você confia no crítico, ele é a melhor referência para decidir se o jogo vale $80 — ou, ainda melhor, experimentá-lo亲自.


Enfim, compreender que os jogos são arte, e como tal, possuem nuances profundas e significativas. Em tempos de crise, é natural buscar segurança em investimentos, mas isso não deve obscurecer a essência do jogo como obra prima. Vamos ter coragem de discutir o valor de cada título, sabendo que a resposta para 'vale à pena?' será sempre única.

Juliana Rocha

Juliana Rocha

Enquanto os preços subem, nossa responsabilidade como consumidores também cresce. Torço para que a indústria encontre um equilíbrio entre o lucro e o respeito pelo jogador.

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