A indústria automobilística europeia está enfrentando um desafio sem precedentes, marcado por perdas significativas e incertezas sobre o futuro. Enquanto empresas como a Renault e a Stellantis (detentoras das marcas Peugeot, Citroën, Fiat, Chrysler e Opel) ainda recentemente celebravam resultados recordes, o primeiro trimestre deste ano trouxe prejuízos bilionários, quebrando qualquer expectativa de estabilidade.
Os problemas se acumulam. Os estoques em concessionárias incharam, obrigando as empresas a oferecer descontos substanciais para vender os veículos, o que directamente afeta a rentabilidade. Para complicar ainda mais, a Renault teve de depreciar sua participação na Nissan, uma empresa que também atravessa um momento difícil. Além disso, a indústria europeia está lidando com a transição para os veículos elétricos e a concorrência feroz da China, que vem ganhando terreno rapidamente no mercado global.
Para completar, as ameaças de tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos aprofundam ainda mais a crise. Enquanto isso, o setor tenta desesperadamente reverter a tendência de queda, culpando principalmente a decisão da União Europeia de proibir vendas de veículos com motores combustão a partir de 2035. Essa medida é considerada divorciada da realidade do mercado e tem sido alvo de intensos esforços de lobby para ser adiada.
Privilegiar o curto prazo, no entanto, pode não ser a melhor estratégia. Os fabricantes europeus tiveram quinze anos para se preparar para a transição tecnológica. No entanto, esse tempo foi suficiente para que a indústria chinesa se tornasse o líder incontestável no mercado de veículos elétricos, conquistando uma vantagem tecnológica decisiva sobre os fabricantes ocidentais.
Enquanto isso, as empresas europeias optaram por continuar investindo em SUVs grandes e lucrativos, que já não são mais acessíveis para a maioria da população. Em contraste, a China apostou na massificação, lançando modelos abrangentes e inovadores que permitem custos de produção mínimos e uma taxa de crescimento impressionante.
Apesar disso, os fabricantes europeus insistem em culpar o mercado europeu por não corresponder às expectativas. No entanto, países que criaram ecossistemas favoráveis para a adoção de veículos elétricos (com incentivos fiscais, infraestrutura adequada e custos de recarga acessíveis) já mostram taxas significativas de adesão ao EV.
Em vez de responsabilizar a transição por seus problemas, o setor deveria canalizar seus esforços para pressionar por políticas que facilitem essa mudança. Adiar as metas pode apenas aprofundar o fosso em relação à concorrência chinesa, que não parará de inovar simplesmente porque os europeus decidiram manter um pé no passado.