Em plena noite avignonesa, um salto alto de seda vermelha subia aos céus, evocando a magia de Le Soulier de Satin, de Paul Claudel. Em meio à encantadora programação da 79ª edição do Festival de Avignon, que fecha suas cortinas no próximo sábado (26 de julho), as emoções não foram poucas. Um dilúvio bíblico sobre a Cour d'Honneur do Palácio dos Papas, uma canção brasileira que arrancava o coração, Sonhos, de Caetano Veloso, e os versos potentes de Mahmoud Darwich e Gisèle Pelicot ecoavam na escuridão, denunciando os males sem fim do conflito israelo-palestiniano e da cultura do violência.
Apesar desse painel rico em sentimentos, o balanço desta edição divide opiniões. Enquanto a dança representou um terço da programação – incluindo espetáculos no contexto da língua árabe convidada – muitos espectadores saíram decepcionados. Afinal, a qualidade artística e a inovação pareciam flutuar em um mar de mediocridade, pelo menos para alguns críticos.
Ironicamente, o festival registrou recorde de público, com taxas de lotação superiores a 98%. Enquanto isso, os teatros continuavam cheios, e as poltronhas voavam, mesmo diante das fragilidades da edição. Alguns diriam que é a prova de que arte e emoção ainda movem multidões; outros, talvez, não resistam a um sorriso irônico diante desse paradoxo.