O futebol brasileiro está dividido, mas dessa vez não é uma rivalidade entre clubes. A discussão está sobre o tipo de gramado onde as partidas são disputadas. Jogadores como Neymar, Thiago Silva e Lucas Moura iniciaram uma campanha nas redes sociais pedindo o fim dos campos com grama sintética, com a frase 'futebol é natural, não sintético', que recebeu apoio de atletas de vários clubes da Série A.
O argumento principal é que o gramado artificial aumentaria o risco de lesões graves. Técnicos como Renato Gaúcho, do Fluminense, também defendem isso após partidas disputadas em estádios com piso sintético. No Brasil, apenas quatro arenas contam com piso sintético, entre eles o Allianz Parque, em São Paulo, e o Engenhão, no Rio de Janeiro.
Porém, por razões econômicas e de logística, esse tipo de gramado tende a crescer. Um levantamento recente publicado pela revista eClinicalMedicine revisou quase 1,5 mil estudos e concluiu que o número de lesões pode ser até menor em gramados sintéticos, principalmente entre jogadores profissionais. No entanto, os dados variam conforme os critérios usados para definir o que é uma lesão.
Muitos atletas alegam sentir mais dores musculares, escorregões e lesões nos joelhos após jogos em campos sintéticos. Isso pode estar ligado ao material mais rígido e ao atrito maior entre a chuteira e o piso, o que reduz a chance de deslizamento e aumenta o impacto sobre as articulações.
"No sintético, o gramado não rompe, e isso acaba gerando mais força de torção sobre o corpo do jogador", explica o docente Leandro Grava de Godoy, um dos principais pesquisadores sobre gramados naturais em atividade no país.
Além disso, a grama artificial também exige irrigação para limpeza e usa materiais que se degradam lentamente no ambiente. Enquanto o gramado natural exige irrigação intensa e uso de pesticidas, ele também contribui com benefícios ambientais importantes.
Muitos estádios estão investindo em cisternas para captar água da chuva e minimizar o impacto ambiental. A escolha por gramados sintéticos, segundo Godoy, é quase sempre financeira. Eles resistem melhor ao uso constante, à realização de shows e a estádios fechados.
Apesar da popularidade crescente dos gramados sintéticos, a Fifa ainda exige grama natural para as partidas da Copa do Mundo. Godoy defende que o gramado artificial tem seu lugar, especialmente para eventos e shows, mas que, para o futebol, a grama natural ainda é superior.