Homens adoecem mais e vivem menos que as mulheres em quase todos os países, segundo uma revisão global da Universidade do Sul da Dinamarca, publicada na revista científica PLOS Medicine. A pesquisa analisou marcadores de gênero em saúde em mais de 200 países, focando em hipertensão, diabetes e HIV/Aids. Os resultados mostram que homens têm taxas mais altas dessas doenças, morrem mais cedo por causa delas e procuram menos o sistema de saúde — tanto para diagnóstico quanto para tratamento.
Sociedade e Cultura: A Doença do Silêncio
Os fatores sociais e culturais são apontados como as principais razões para essa desigualdade. Normas de gênero, comportamentos de risco e a associação entre doença e fragilidade ajudam a afastar os homens do cuidado com a saúde. Eles costumam fumar mais, negligenciar a prevenção e tendem a minimizar sintomas.
Estatísticas no Brasil
No Brasil, os dados refletem esse cenário. Em 2023, a expectativa de vida masculina era de 73,1 anos, contra 79,7 anos das mulheres, uma diferença de quase sete anos. Os homens também fazem menos consultas de rotina e são mais resistentes a exames preventivos e a tratamentos contínuos.
Uma Questão de Abordagem
Gomes, médico de família e comunidade, destaca que a mudança começa na atenção primária, com ações específicas para atrair e acolher o público masculino. 'A atenção primária precisa conhecer bem sua população e desenvolver estratégias para ampliar o acesso e acolhimento a esse grupo', enfatiza.
Consequências da Resistência
As consequências dessa resistência em recorrer ao sistema de saúde aparecem nas estatísticas. Em relação ao HIV e à aids, 70,7% dos casos no Brasil se deram em homens entre 2007 e julho de 2024. Doenças crônicas como hipertensão e diabetes levaram mais homens a complicações fatais.
Da Clínica para a Sociedade
Gomes observa que muitos homens ainda encaram o sistema de saúde como um recurso emergencial, acionado apenas em situações agudas. 'Também devemos considerar o estigma dos exames de rastreio de câncer de próstata', lembra.
Iniciativas e Desafios
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), criada em 2008, busca enfrentar os fatores culturais e sociais que afetam a saúde masculina. Outro exemplo é o Novembro Azul, que sensibiliza homens sobre exames preventivos.
Transformação Necessária
'Entendo ser necessário que todos os profissionais de saúde da atenção primária conheçam os protocolos sobre rastreio, tratamento, classificação e reabilitação do homem', afirma Gomes. São estratégias que vêm demonstrando eficácia — resta torná-las mais amplas e consistentes.