Onde está o lugar mais remoto que você jamais imaginaria encontrar plástico?

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Os microplásticos foram encontrados em placas de fetos não nascidos, nas profundezas do Trenchão das Marianas, no cume do Monte Everest e nos órgãos de penguins antárticos. Mas como eles viajam pelo mundo e o que fazem com os seres que os transportam? Descubra aqui a história de como o plástico contamina ecossistemas inteiros – inclusive a comida que consumimos.


A jornada começa com um fio de poliéster, desalojado do tecido de uma simples e barata peça de lã rosa. Durante o centrifugado na máquina de lavar, ele libera centenas de milhares de fragmentos plásticos microscópicos – até 700.000 em um único ciclo de lavagem.


Esses fios se juntam a bilhões de fibras sintéticas microscópicas que viajam pelas tubulações de esgoto doméstico. Muitas vezes, terminam em lodo de esgoto espalhado em campos agrícolas para promover o crescimento das plantações. O lodo é usado como fertilizante orgânico na América do Norte e Europa, inadvertidimente transformando o solo em um reservatório global gigantesco de microplásticos.


De lá, os microplásticos ascendem pela cadeia alimentar, passando por insetos, aves, mamíferos e até humanos. Enquanto a peça de lã terá uma vida breve como vestuário, durando apenas algumas lavagens antes de ser descartada, o fio pode navegar pelo mundo natural por séculos.


Quando espalhados no solo, esses fios se misturam à生态ologia do solo. Formigas e lagartixas confundem os fragmentos plásticos com resíduos orgânicos naturais, ingerindo-os sem conseguir processá-los adequadamente. Estudos recentes mostraram que quase um terço das formigas contêm plástico em seu interior.


Os impactos sobre os insetos são significativos: desde o crescimento comprometido até problemas reprodutivos e danos hepáticos, pulmonares e renais. Até as pequenas criaturas do solo, como ácaros e nematoides, que ajudam na fertilidade do solo, sofrem negativamente com a presença do plástico.


No topo da cadeia alimentar, os humanos consomem pelo menos 50.000 partículas microplásticas por ano. Elas estão em nossa comida, água e até no ar que respiramos. Sangue, leite, sêmen, plasma, ossos, placenta e até o cérebro humano já foram encontrados contendo resíduos plásticos.


Essa jornada transversal pelo sistema ambiental foi descrita como 'plastic spiraling'. Cientistas calcularam que a quantidade de microplásticos equivalentes a 300 milhões de garrafas de água mineral já caiu no Grand Canyon e em outros parques nacionais americanos. Até os lugares mais remotos do planeta estão contaminados.


Embora extremamente difícil de extrair uma vez que começam a se espalhar, a melhor maneira para evitar sua disseminação é interrompê-las no início – antes que cheguem ao solo, à água ou aos alimentos. Desde os anos 50, humanidade produziu mais de 8,3 bilhões de toneladas de plástico.


Emily Thrift, pesquisadora do ambiente na Universidade de Sussex, afirma que a responsabilidade não deve recair apenas sobre o consumidor. 'Até que haja políticas que punam as grandes empresas por seu dano ambiental, pouco mudará', diz ela.

João Silva

João Silva

A jornada dos microplásticos é um lembrete doloroso da magnitude do problema ambiental que criamos. Enquanto a natureza segue sua dança intricada, o plástico permanece como uma presença indestrutível em nossos ecossistemas. A reflexão final? Talvez seja hora de reconsiderar nossos hábitos e sistemas antes que o próprio solo que cultiva nossa comida se torne um arquivo morto de nossas escolhas passadas.

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