A ascensão de Marília Mendonça no sertanejo foi mais do que uma simples revolução musical. Foi um movimento cultural, político e social que desafiou as barreiras impostas pelo machismo estrutural. Em 2014, o gênero ainda era dominado por vozes masculinas, com canções que retratavam histórias exclusivamente de homens. Dois anos depois, Marília estourou com "Infiel", uma música que não apenas conquistou as paradas, mas também abriu espaço para um novo diálogo sobre identidade e lugar das mulheres na música.
Marília rejeitava o rótulo de "feminejo", considerando-o reducionista. "Sertanejo é sertanejo", insistia. A cantora não buscava um nicho exclusivo para mulheres, mas a igualdade na competição. Seu posicionamento não foi apenas artístico; foi um ato de resistência contra um sistema que negava espaço e voz às artistas.
Sua jornada foi marcada por contradições e evolução. No início, Marília afirmou não ser feminista, mas com o tempo, seu discurso mudou. Ela passou a reconhecer o machismo que permeava o mercado musical brasileiro, usando sua plataforma para retratar histórias reais de mulheres, como a marginalização em "Troca de Calçada" e a libertação em "Você Não Manda Em Mim".
Hoje, artistas como Simone Mendes e Lauana Prado continuam seu legado, ocupando as paradas com canções que refletem a realidade das mulheres. Marília não apenas abriu portas; ela derrubou muros. Suas letras e sua personalidade única tornaram-na irrepetível, uma figura que transcende o sertanejo para se tornar um ícone da resistência cultural no Brasil.