Meta de Zuckerberg em Havaí: Um Império Sobre Túmulos e Segredos

Imagem principal da notícia: Meta de Zuckerberg em Havaí: Um Império Sobre Túmulos e Segredos

Em Kauai, Havaí, a história de Julian Ako se entrelaça com a de Mark Zuckerberg de forma trágica e irônica. Desde criança, Ako visitava o lar do seu avô materno, perto da praia de Pilaá, onde ele e sua família colhiam fungos comestíveis em árvores de kukuí e recolhiam algas e peixes da réia. Hoje, aquele território pertence ao CEO da Meta, que constrói um complexo gigantesco com custo estimado em mais de US$ 300 milhões — e sobre o qual se descobre estar situado acima de um cemitério indígena.


A revelação, feita pela WIRED, expõe não apenas a complexidade da relação entre Zuckerberg e a cultura havaiana, mas também o dilema ético de construir sobre um passado que não se pode negar. Enquanto Ako consegue acesso ao terreno para registrar os túmulos de sua família, outros membros sepultados no local ainda permanecem deslocados — refletindo aprofunda crise entre riqueza e memória.


Para Zuckerberg, a aquisição de terras em Havaí não é nova. Desde 2014, o bilionário comprou hectares e hectares de terra, inclusive um estoque recente de 962 acres por US$ 65 milhões. Com isso, sua propriedade passa de 1.400 para mais de 2.300 acres — colocando-o entre os maiores proprietários de terras do estado. O que ele pretende fazer com tanta terra? Ainda não sabemos — mas as especulações sobre ranchos, hotéis e bunkers continuam.


Enquanto Zuckerberg constrói seu império, a população local questiona: o que está acontecendo aqui? As finanças ilimitadas do bilionário transformaram Kauai em um playground privativo, onde segredos são guardados com rigor — inclusive entre os próprios trabalhadores. Com NDAs (Acordos de Não Divulgação) assinados por centenas de empregados, até ossadas encontradas durante as obras jamais chegarão à luz do dia.


Essa história é maior que Zuckerberg ou Kauai. Ela reflete um padrão global: a concentração cada vez maior de riqueza em mãos de poucos, deslocando populações e transformando terras sagradas em propriedades privadas. Em Havaí, o impacto é ainda mais profundo — pois se trata de uma cultura onde a terra não é apenas um recurso, mas um legado ancestral.


É hora de repensar o que significa 'fazer lar' no século 21. Se Zuckerberg quer construir algo duradouro em Kauai, talvez precise olhar para o passado — e ouvir as vozes daqueles que já habitavam aquele território antes dele.

Bruno Lima

Bruno Lima

Esta historia é um espelho de tantas outras em que a riqueza desenfreada se choca com a memória e a cultura. Em Brazil, vemos o mesmo dilema nas mãos dos ruralistas e das empresas multinacionais que apreendem terras indígenas e promovem desmatamentos. A pergunta é: quanto tempo mais será permitido que a História seja pisoteada pelo progresso?

Ver mais postagens do autor →
← Post anterior Próximo post →