Em um marco histórico na luta contra o câncer, cientistas australianos descobriram uma nova estratégia para combater tumores resistentes e agressivos, como os que afetam o fígado, pulmões e estômago. A revolução está no splicing menor, um processo essencial em células tumorais que, até então, permanecia pouco explorado.
Em experimentos com animais e células humanas, os pesquisadores descobriram que a interrupção desse mecanismo pode reduzir significativamente o crescimento dos tumores sem causar danos às células saudáveis. Trata-se de uma abordagem inovadora que atinge um processo crítico na produção de proteínas, evitando mirar diretamente as mutações responsáveis pelo câncer.
"A pesquisa oferece uma nova maneira de abordar um problema que resiste às abordagens convencionais", destacou a pesquisadora Karen Doggett. "Isso pode ajudar um grupo muito maior de pacientes"
O estudo, publicado na revista EMBO Reports, foca em um gene pouco explorado, o RNPC3, responsável por 0,05% das atividades genéticas. Apesar de ser uma minoria, esse grupo inclui genes fundamentais para a divisão celular acelerada, uma das características principais do câncer.
Os cientistas reduziram a atividade de uma proteína ligada ao gene RNPC3 e observaram uma queda expressiva no crescimento dos tumores. Além disso, essa intervenção ativa a via p53, conhecida como 'guardiã do genoma', que promove a morte celular em caso de danos ao DNA.
"Validamos o splicing menor como um alvo terapêutico convincente. Agora o desafio é desenvolver um composto medicamentoso que possa inibi-lo de forma segura e eficaz", disse Heath, uma das autoras do estudo.
Para encontrar compostos capazes de inibir o splicing menor, os cientistas triaram mais de 270 mil moléculas no National Drug Discovery Centre e identificaram várias com potencial para avançar no desenvolvimento de medicamentos.
A equipe do WEHI já está trabalhando na próxima fase: transformar essa descoberta em uma terapia aplicável na prática clínica, oferecendo uma nova esperança para pacientes com cânceres que hoje têm poucas opções de tratamento.