O recuo da EPA e o desmonte da luta contra a mudança climática

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A semana passada foi marcada por um recuo significativo na luta contra a mudança climática nos Estados Unidos. A Agência de Proteção Ambiental (EPA) rejeitou um documento que estabelecia sua capacidade de regulamentar gases de efeito estufa, principais responsáveis pelo aquecimento global. Enquanto essa ação legal dominou os headlines, outras duas medidas complementares vieram à tona, visando descartar tanto a ciência subjacente quanto as fontes renováveis de energia que representam nossa melhor chance de limitar o aquecimento.


Para compreender o que está acontecendo, basta olhar para o Departamento do Interior, responsável por conceder licenças para projetos de energia em terras federais. Enquanto a energia eólica e solar se tornaram as formas mais baratas de geração elétrica e estão em um boom espetacular - com a solar respondendo por mais de 80% da nova capacidade instalada nos EUA -, o governo Trump excluiu essas fontes de sua ordem executiva declarando estado de emergência energética. A justificativa para isso não passa de 'não gostamos disso', o que pode colocar a administração em conflito com regras que proíbem decisões 'arbitrárias e capriciosas'.


Para salvar-se desse impasse, o Interior apontou como justificativa a densidade energética. Usando um critério de uso da terra por megawatt, os ventos e sol foram declarados menos eficientes do que as usinas nucleares, que não conseguimos construir no tempo ou orçamento previstos. Assim, passaram a ser considerados 'danosos ao meio ambiente' e um uso ineficiente de terras federais.


Enquanto isso, o Departamento de Energia lançou um relatório questionável sobre a ciência do clima, chegado a marginais contrarianes como John Christy e Judith Curry. O estudo recusa as evidências claras de aquecimento global, usando métodos inconsistentes e evitando dados recentes que reforçariam o quadro alarmante.


Essas ações refletem uma estratégia deliberada para desmontar as respostas às mudanças climáticas iniciadas por administrações anteriores, questionando a ciência e usando informações falsas para mobilizar apoiadores. No entanto, reconhecendo que essas abordagens não funcionariam nos tribunais, o governo está separando as batalhas legais, criando justificativas 'plausíveis' para suas decisões.


Afinal, com a Suprema Corte demonstrando pouco interesse em respeitar precedentes, é possível que o tribunal simplesmente descarte a decisão que compelia o governo a emitir a Declaração de Ameaça. Se isso acontecer, administrações futuras poderão ignorar o problema do clima com maior facilidade.

Lucas Martins

Lucas Martins

Enquanto o mundo observa, o governo dos EUA parece estar mais interessado em negar do que enfrentar a crise climática. Será que alguém lembra de como começamos?

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