Em tempos onde a voz está sempre mais alta do que o silêncio, é raro encontrar alguém que saiba ouvir. Ouvir, não apenas como uma passividade sonora, mas como uma arte de compreender, refletir e dialogar. No entanto, no Brasil atual, esse dom parece ter se tornado uma raridade.
As ruas, as redes sociais, os meios de comunicação: tudo está repleto de opiniões, gritos, indignações e, muitas vezes, birras. Ouvir passou a ser sinônimo de fraqueza, de concordância automática com o outro. E isso não é saudável. Não podemos crescer como sociedade sem antes aprendermos a ouvir.
Os brasileiros, em particular, têm uma tendência histórica à exaltação do individualismo. Cada um defende suas causas, cada um grita por seus direitos, mas raramente paramos para ouvir o outro lado. E é justamente esse déficit de escuta que está nos impedindo de avançar como sociedade.
É interessante notar como as redes sociais exacerbam esse problema. Em plataformas como o Twitter, o Facebook e o TikTok, as mensagens são curtas, impactantes e muitas vezes simplistas. Ouvir passa a ser opcional, e o debate se torna mais uma guerra de slogans do que um diálogo verdadeiro.
Para além das redes, no mundo real, não é muito diferente. As discussões sobre política, economia, educação e saúde raramente ultrapassam o limite da polarização. Cada grupo defende suas bandeiras, mas ninguém está interessado em entender a posição do outro.
Isso não é exclusivo do Brasil, claro. É um problema global, fruto de uma era onde as informações são abundantes, mas a atenção é escassa. No entanto, no Brasil, esse fenômeno ganha um sabor peculiar, misturando o individualismo exacerbado à falta de educação em diálogo.
Como podemos mudar isso? Primeiro, precisamos reconhecer que ouvir não é uma fraqueza. É, na verdade, a base de qualquer progresso. Sem ouvir, não podemos entender, e sem entender, não podemos negociar.
A arte de escutar deve ser retomada como um valor em si mesmo. Em um mundo onde o barulho é constante, o silêncio se torna uma preciosidade. E é nesse silêncio que as verdades mais profundas tendem a aflorar.