A inteligência artificial (IA) não surge do nada, mas sim como um capítulo em nossa longa história de comunicação e evolução tecnológica. Ela é o ponto mais recente de uma jornada que começou com o telegrafo de Samuel Morse, passou pelo animismo — a tendência humana de atribuir espíritos a entidades não humanas — e culmina hoje na era digital. Afinal, desde sempre, somos fascinados por机器que podem pensar e comunicar-se como nós.
Os debates sobre IA, sejam eles de celebração ou de pavor, refletem essa herança histórica. Veja bem: acreditar que um computador jamais substituirá um cientista, um artista ou um filósofo é tão humano quanto pensar que ele pode dominar o mundo. E isso não é novidade. Desde os primórdios da humanidade, buscamos atribuir sentimentos e inteligência a coisas inanimadas, desde idols de pedra até nossas modernas máquinas de deep learning.
Considerando nossa realidade brasileira, onde a tecnologia ainda é desigualmente distribuída, é interessante notar como a IA se tornou o novo 'móvel' para discussões sobre progresso e desenvolvimento. No entanto, essas conversas não são inocentes. Assim como no século XIX, quando o telegrafo foi associado à capacidade de comunicação com os mortos, hoje vemos sistemas de IA sendo creditados por obras que refletem mais a mentalidade do programador do que a 'inteligência' propriamente dita.
É curioso como, em um país como o Brasil, onde a modernidade e a tradição se entrelaçam constantemente, a IA surge não apenas como uma ferramenta tecnológica, mas também como um espelho de nossas ansiedades e aspirações. Assim como antigamente as pessoas atribuíam 'espíritos' aos cabos de ferro do telegrafo, hoje damos vida virtualmente a algoritmos e redes neurais.
Enfim, a IA é apenas mais uma etapa em nossa jornada coletiva de tentar compreender o mundo à nossa volta. E, assim como os antigos que construíram máquinas para 'conversar' com os mortos, nós hoje construímos sistemas que prometem revolucionar a sociedade. Onde está o problema? Bem, talvez não haja um problema. Talvez haja apenas uma constante: nossa obsessão humana por atribuir sentimentos e inteligência a coisas que, no fim das contas, são apenas metal e código.