Morrer um jornalista como J.R. Guzzo é mais do que perder uma vida. É desaparecer uma voz singular, um faro apurado para o noticiário e uma alma combativa que jamais se curvou ao poder. Ele foi, sem dúvida, um dos pilares da imprensa brasileira, construindo uma carreira que durou mais de seis décadas e marcando gerações com sua inteligência, coragem e ironia.
Sua morte, aos 82 anos, vítima de infarto, não poderia passar despercebida. E não passou. Governadores, ex-deputados, artistas e colegas de profissão se uniram para homenageá-lo, enaltecendo suas qualidades como referência intelectual e pioneiro do jornalismo investigativo. O governador Tarcísio de Freitas, por exemplo, destacou sua "coragem" e seu "compromisso inegociável com a liberdade de expressão", qualidades que definem o legado de Guzzo.
"Guerreiro da informação", como era chamado, Guzzo construiu uma trajetória invejável. Foi editor-chefe da Veja, colunista do Estado de S. Paulo e um dos fundadores da Revista Oeste. Em cada cargo, impôs sua marca: jornalismo sério, denso e com um toque de ironia que cativou leitores durante anos.
Sua última coluna, publicada no dia anterior ao falecimento, tratava da crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos. Como sempre, abordou o tema com a lucidez que lhe era peculiar, esgrimindo argumentos afiados e questionamentos perturbadores. Foi assim durante toda a vida: um incansável caçador de notícias, capaz de transformar fatos em histórias que ecoariam por décadas.
A repercussão do seu falecimento transcende o universo jornalístico. Até mesmo figuras da música, como Roger Moreira, vocalista da banda Ultraje a Rigor, se manifestaram. "O maior jornalista do Brasil", definiu o cantor, destacando a coragem e a precisão de suas análises.
Guzzo foi também um homem de visão. Enquanto muitos de seus contemporâneos se contentavam com o cotidiano, ele apostou em projetos que dariam frutos a longo prazo. A fundação da Revista Oeste, voltada ao público conservador, é um exemplo dessa visão战略ática. Ele soube antecipar tendências e criar espaços de debate que ainda hoje influenciam o cenário brasileiro.
Agora, com sua partida, fica a pergunta: quem herdará seu legado? Quem terá a audácia e a inteligência para seguir na mesma linha? No momento em que tantos jornalistas parece preferir a segurança do politically correct, é difícil encontrar alguém capaz de pisar no calcanhar da verdade com a mesma determinação.
Guerreiro da informação, J.R. Guzzo deixou mais do que um exemplo: legou uma herança intelectual e moral para aqueles que se inspiram em seu trabalho. Seu jornalismo não foi apenas uma profissão, mas uma missão. E é por isso que sua morte não é apenas uma notícia: é um momentos de luto, mas também de orgulho pelo que ele representou.