O Túnel Transatlântico: Sonho ou Pesadelo?

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Imagine embarcar em um trem em Nova York e desembarcar 54 minutos depois em Londres, atravessando um túnel sob o Oceano Atlântico. Essa visão fascinante é descrita em algumas propostas recentes. Mas será que um túnel transatlântico realmente é possível ou apenas pertence ao realm da ficção científica?


A resposta curta é: provavelmente não é possível com a tecnologia atual.


Primeiro, uma viagem de 54 minutos exigiria trens em vácuo viajando a 8.000 km/h, uma tecnologia que ainda não existe. Com velocidades convencionais, a jornada duraria cerca de 15 horas, ou seja, mais lenta do que um voo de 8 horas.


Atualmente, o maior trecho submarino de um túnel pertence ao Canal da Mancha, com uma seção subaquática de 37,9 km conectando a Inglaterra e a França. A construção do túnel, apelidado de 'Chunnel', durou seis anos, empregou 13.000 trabalhadores e custou 4,65 bilhões de libras esterlinas em 1994 (equivalentes a 12 bilhões de libras hoje).


Dependendo da localização, o túnel pode custar muito mais - tanto em tempo quanto em dinheiro. O Projeto do Túnel do Hudson, por exemplo, visa construir um trecho ferroviário de 14 km entre Nova York e Nova Jérsey, previsto para levar 12 anos e custar US$ 16 bilhões.


Steve Sigmund, chefe de divulgação pública da Comissão de Desenvolvimento Gateway, disse à Live Science que é um projeto composto por 10 projetos menores, cada um quase um mega-projeto em si mesmo.


Um túnel transatlântico, claro, seria consideravelmente mais longo - cerca de 5.500 km entre Londres e Nova York. Para um túnel assim, "haverá vários desafios", disse Bill Grose, especialista em túneis e membro da Instituição de Engenheiros Civis.


Os primeiros desafios seriam a logística de construção: comoventilar o túnel, como fornecer energia à máquina perfuradora e como levar os trabalhadores ao local. Grose disse que transportar trabalhadores de um extremo do túnel para o ponto médio seria impraticável, então o projeto exigiria uma máquina perfuratriz autônoma em escala jamais vista.


Além disso, a demanda por energia é considerável. Para um túnel de apenas 10 km, uma máquina perfuratriz típica requer cerca da mesma quantidade de energia que uma pequena cidade. E as máquinas atuais são lentas - Grose estima que um túnel atravessando o ponto mais curto do Atlântico (Gâmbia para o Brasil, cerca de 2.575 km) levaria 500 anos para ser construído.


Outro desafio é a pressão da água. O recorde mundial de pressão de água enfrentada por uma máquina perfuratriz submarina é de 15 bar, ou 15 vezes a pressão atmosférica no nível do mar, a 150 metros de profundidade. No ponto mais profundo do Oceano Atlântico, a pressão ultrapassa 800 bar.


Enfim, há o problema do financiamento de um projeto tão gigantesco. "A construção, os materiais, o tempo, a mão de obra, o planejamento - esses são os principais fatores que encarecem os túneis mesmo para projetos relativamente curtos", disse Sigmund.


Dada a enormidade dos custos e os riscos catastróficos de um único vazamento, financiar tal projeto seria quase impossível. "No momento, diria que os desafios são insuperáveis", disse Grose. "Há coisas que precisam ser inventadas primeiro."

Rafael Pereira

Rafael Pereira

Enquanto sonhamos com trens supersónicos e túneis subaquáticos, é bom lembrar que a engenharia有时 também se chama 'realismo'. A ideia de um túnel transatlântico é fascinante, mas talvez seja melhor deixá-la no realm da ficção - ou pelo menos em projetos de engenharia do século XXIII. Até lá, vamos nos contentar com voos e ferryboats.

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