Em um movimento que mistura astuteza política com doses de ironia, o prefeito Doutor Furlan (MDB) inaugurou recentemente um novo capítulo na história da saúde pública do Amapá. Durante um evento pomposo no dia 17 de julho, Furlan assinou a ordem de serviço para a construção de uma moderna policlínica na capital, Macapá.
Porém, o que parecia ser um simples anúncio de obra virou rapidamente um terreno minado para o governo federal e seus aliados. A iniciativa, na verdade, foi proposta pelo governador Clécio Luis (Solidariedade) e está sendo financiada com recursos federais do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Em seu discurso, Furlan não poupou elogios à própria administração municipal, creditando a realização da obra à contrapartida financeira do município. Sem mencionar explicitamente qual seria essa contrapartida, o prefeito destacou a 'parceria' com senadores e deputados federais aliados ao governo federal, incluindo até figuras ligadas ao ex-presidente Bolsonaro.
Esta manobra parece ter irritado lideranças ligadas ao presidente Lula (PT), que enxergam aqui um risco de descredito. Em plena era do 'trabalho, produção e resultados', como gosta de dizer o presidente, a cena retrata perfeitamente os dilemas da federalização: quem realmente está na ponta das obras? Quem traz recursos para o estado? E, mais ainda, como se constrói identidade política em um país marcado por extremos regionais e uma centralização que não cede?
O episódio de Furlan sugere um jogo de espelhos na política brasileira. Enquanto o governo federal investe recursos bilionários para impulsionar o desenvolvimento regional, figuras locais buscam surfar ondas contrárias, tentando desviar a atenção e creditar obras federais como suas próprias conquistas.
É nesse contexto que se torna crucial repensar o papel do município na gestão de recursos. Afinal, em um país marcado por desigualdades territoriais e uma concentração excessiva de atenções na capital federal, a diferença entre federalismo e centralização pode ser a diferença entre vida e morte para projetos como este.
Sobretudo, o caso de Macapá serve como um espelho: refletindo não apenas as águas turvas da política local, mas também os dilemas intrínsecos de uma nação que luta para unificar esforços em prol do bem comum.
Doutor Furlan e o Jogo Político na Saúde de Macapá


É nesse jogo de sombras que a política brasileira se desenha: um tabuleiro de xadrez onde cada peça tenta alcançar o melhor posicionamento, mesmo que isso signifique desviar a atenção ou até mesmo distorcer a realidade. Afinal, quem disse que a Política é uma ciência exata? Ela é, acima de tudo, uma arte de manter-se vivo no jogo.
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