Em pleno século XXI, testemunhamos um momento profundamente triste e chocante: milhões de doses de contraceptivos, avaliadas em 9,7 milhões de dólares (cerca de 8,471 milhões de euros), estão sendo incineradas na França. Este estoque, inicialmente destinado a mulheres em situação de vulnerabilidade nos países do Sul Global, é financiado pela USAID, agência americana para o desenvolvimento internacional, e poderia durar até 2031.
A razão para essa destruição massiva? Política ideológica. A administração Trump ordenou que esses contraceptivos fossem eliminados como parte do desmantelamento da USAID, recusando-se a ceder o estoque a organizações não governamentais que estavam prontas para distribuí-lo. Isso não é uma questão de saúde pública ou logística — é um erro político deliberado.
Quem está responsável por essa operação? Até hoje, o prestador de serviços encarregado da incineração não foi identificado. O estoque, que estava armazenado na Bélgica, foi transportado para a França no final de julho por uma equipe de caminhões. O local exato da incineração permanece voluntariamente não declarado, e as empresas envolvidas no tratamento de resíduos médicos não confirmaram participação.
Como organizações que atuam em países africanos, sabemos muito bem o que significa uma interrupção no fornecimento de contraceptivos: gravidezes indesejadas, crianças abandonadas, abortamentos não assistidos, meninas expulsas da escola aos 12 anos e mulheres presas em maternidades coagidas. Agora, perguntamos: a França aceitará, sem reação, tornar-se a executora de uma política insana proveniente do outro lado do Atlântico?
Este não é apenas um problema ambiental ou humano — é uma falência moral e uma afronta à dignidade das mulheres que dependem desses contraceptivos para viver suas vidas com autonomia.